Desculpe o transtorno: coração em obras
As ruas esvaziaram e, ao mesmo tempo, o coração apertou. De um momento para outro, coloquei o tumulto do mundo dentro de mim. Me vi obrigada a diminuir espaços, adiar planos. Não apenas ressignificar a rotina, como também juntar minhas versões. Profissional, mãe, mulher. Nossos papéis se confundem, buscamos nos equilibrar numa corda bamba.
Por todo lugar, dicas sobre o que fazer agora. Trabalhe, arrume a casa, pinte um quadro, faça cursos, call com as amigas, séries em casa, leia um livro, exercite-se, cozinhe, ame, brinque, relaxe. É hora de ser mais produtiva que nunca, alguns dizem. A ansiedade então aumenta junto com a vontade de olhar para o céu azul, de tomar um bom vinho num restaurante delicioso.
Tempo, tempo, tempo…
Mas então me dou conta que toda obra é uma construção. Parece óbvio, né? Pois é. Começa um grande caos e, aos poucos, vai ganhando forma. A passos de formiga, que seja. Cada um no seu tempo. As formigas, aliás, são um grande exemplo. Elas se movem com dificuldade, segurando pequenas folhas nas costas, mas nunca levam um peso maior do que conseguem aguentar. Espertas as formigas, vão em conjunto, contam com a ajuda umas das outras, para conseguir avançar.
A verdade é que sempre existiu um mundo dentro de nós. Vasto, diverso, bonito. E é ele que vai ser combustível para agora passarmos por tudo isso. Solte os músculos, invente sua própria festa, sinta o ar entrar e sair de dentro de você. Reconstrua-se como der, torta, imperfeita. Sem caos, não há avanço.