Maria Filó Blog | Dicas e Inspirações de Moda
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Mãe de 3 filhos, um desafio ao cubo

Como ser mãe de 3 filhos? Mães, aspirantes e simpatizantes: este texto tenta explicar como é ser mãe de 3 filhos. Sim, elas existem. Sim, eu sou uma delas. Sim, há relatos de mulheres nos dias presentes que têm até mais. Tenho duas amigas que tiveram 4. Tenho uma única que planeja 5. Conheço (assim, de ouvir falar) uma que teve 8. Mas nunca soube de alguém dentro do meu círculo de família/amigos/stalkeados semi-próximos que superasse a marca da minha bizavó: 17.

Seria a maternidade uma linha de produção?

Pausa pra você fazer uma matemática rápida: quanto tempo de vida uma mulher que teve 17 filhos passou gestando? (e sem gemelar, um filho por vez). Eu facilito: assumindo como média gestações até mais curtas, de 8 meses (pra dar conta de um ou outro prematuro que provavelmente rolou), foram pelo menos 11,3 anos carregando gente na barriga. ONZE anos de gravidez.

Quantos likes essa guerreira pré-Instagram merece?

Comecei o texto com esse caso extremo porque, sem me dar conta, acho que ter essa referência de mãe modo industrial (e apenas poucos galhos acima na minha árvore genealógica) pode ter me ajudado a não seguir a vida em modo pânico desde o anúncio dos gêmeos na ultrassonografia – ou alguém duvida que essa notícia é recebida com pânico?

Calma, eu tenho um plano!

Então ofereço um breve um panorama: eu fiz balé achando que seria bailarina, fiz faculdade de comunicação porque gostava de escrever, entrei pro estágio porque queria comprar um carro, terminei um namoro no Réveillon porque queria estar solteira no Carnaval, ou seja, com propósitos mais ou menos nobres, sempre levei a vida confiando bem na minha capacidade de planejamento e uma certa crença na relação de causa/consequência.

Óvulos que sorriem

É por isso que quando eu vi dois ovulozinhos sorrindo para mim no exame de ultrassom – mentira, eu não vi nada e desconfio de todo mundo que diz que vê. Com exceção do médico. Ou talvez nem ele, não sei (#polêmica). Sempre achei tela de ultrassonografia um santo sudário digital. Tem que ter fé para enxergar.

Mas voltando: quando fui informada que eram dois óvulos, minha sensação imediata foi como se algum desconhecido tivesse esbarrado comigo na rua e falado: “Olá, tudo bem? Toma aqui essa passagem pra Shangai. Volta para casa e faz as malas”. Uma situação também conhecida como “OI?”.

Como assim?

Como assim, gêmeos? Como assim? Eu já tenho uma filha e terei mais dois. Como assim? Acabei de trocar de carro e não vai mais caber minha família. Como assim? Não vou ter dinheiro para 3 escolas. Como assim? Como eu vou amamentar e viver? Como assim? Cabe carrinho de gêmeos no elevador? Como assim? Onde eles vão dormir? Como assim? Não vou nunca mais entrar nas minhas calças. Como assim? Mas não tinha gêmeos na família! Como assim? Vê direito aí nessa tela que ninguém vê nada. Como assim?

Enquanto eu pensava em filha, carro, calça, Shangai, reforma, dinheiro, elevador, faculdade, geladeira, coleira de criança, 60 unhas para cortar, 84 dentes para nascer, meu marido só deu um grito (naquela frequência difusa entre a alegria e o desespero) e apertou forte a minha mão. Não dava para falar muito. Mas por telepatia, captei que: “a gente não sabe para onde está indo. Mas a gente está junto”.

E talvez seja só isso. Talvez seja essa a resposta para a pergunta-título “como ser mãe de 3 filhos?”: é preciso se sentir apoiada.

A melhor resposta é sempre a mais simples

É uma resposta simples, mas não é fácil: com algum conhecimento de causa no assunto, arrisco dizer que boa parte do tanto que a gente entra em pânico com a maternidade vem da ideia surreal de que precisamos fazer tudo: gestar/ amamentar/ desfraldar/ ensinar a ler, pedalar e furar onda/ fazer merenda/ bater bolo de aniversário/ não deixar bater no amigo/ levar ao pediatra/ marcar reunião com a professora/ acompanhar a febre/ guardar o resto do biscoito/ responder as outras mães no WhatsApp/ ensaiar para o TikTok/ regular o Fortnite/ ler antes de dormir/ fazer trança embutida/ apresentar os Beatles, o Caetano e o Metallica/ tomar a tabuada/ corrigir os afluentes do Amazonas/ comprar o álbum da Copa e saber escalar os sobrenomes da seleção da Holanda de 94.

Dar conta disso tudo sozinha, sinto informar, não rola. E acho que dá para ir mais longe: nunca rolou.

Que história é essa?

A diferença é que antes, a minha mãe, a sua avó, nossas bisavós, não tinham muito espaço para falar desse jeito. Ser mãe era supostamente o sonho e papel principal de qualquer mulher, mesmo as que já trabalhavam fora. Então ficava mais fácil (aka cômodo para todo o resto) que elas assumissem a titularidade absoluta na função. AND sem reclamar. AND sem pedir ajuda. AND com o cabelo e a lingerie em dia. Com a benção das deusas que regem as reflexões sociais, estamos cada vez mais espertas para não cair nessa projeção de família perfeita. Porque estamos cada vez mais despertas para as nossas vontades e direitos como mulheres.

Há luz depois do labrador

Ser mãe poder ser o maior barato especialmente quando, junto com as responsabilidades, vem o prazer de não se perceber sozinha. E é natural que a gente tenha se acostumado a pensar que essa parceria só possa ser desempenhada pelo companheiro afetivo – porque, mais uma vez, somo atraídas aos clichês de família de comercial de empreedimento imobiliário (aquela mesmo: mamãe de maiô branco, papai de bermuda de linho, dois filhos, um labrador e uma bola). Mas a real é que não só as combinações de família são hoje muito mais diversas do que eram décadas atrás, como as oportunidades, privilégios e redes de apoio também mudam muito de uma mãe para outra.

Nossas vidas, nossos filhos, são bem mais que esses 30 segundos de ficção publicitária. Os americanos resumem bem quando dizem “it takes a village”, ideia que repetem como mantra para lembrar que “é preciso uma vila inteira” para cuidar de uma criança – convocando de cara pais, irmãos, avós, tios, amigos, educadores, mas não só eles. Empresas, governo e sociedade também são parte ativa numa relação mãe e filhos mais saudável e feliz para todo mundo.

No meu vocabulário pessoal, gosto de pensar que somos todos sócios da humanidade do futuro. Ser mãe de 1, 2, 3 ou 17 filhos: é sempre ato contínuo e nunca é moleza. Mas fica bem mais legal quando podemos dividir e conjugar no plural.

Se cabe alguma ajuda final, na dúvida, não espere uma maternidade perfeita. Não espere uma rotina impecável e não fantasie sua felicidade no paraíso do labrador e do maiô branco. A maternidade é sempre feita de muito inspira/expira, com ou sem ajuda de uma vila. Esse #forçaguerreira é real. Namãestê, companheiras de front.

Crônica escrita por Vivian Mayrink, que assina nossa bem humorada t-shirt Namãestê, disponível nas lojas físicas.

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