Maria Filó Blog | Dicas e Inspirações de Moda
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Lugar de mulher é… na ciência

Sabia que a participação feminina na produção científica no Brasil cresceu 11% nos últimos anos? Em 2017, as mulheres chegaram a assinar 49% dos artigos criados no país, superando países como EUA e Japão. Temos belos motivos para comemorar, mas ainda há o que melhorar: as cientistas são autoras de apenas 17% das invenções por aqui, além de participarem e serem menos citadas em pesquisas internacionais.

No que depender da pesquisadora e professora Márcia Cristina Bernardes Barbosa, especializada em mecânica estatística, essa realidade vai continuar mudando. Vencedora do Prêmio L’Oréal-UNESCO para mulheres cientistas e premiada pela American Physical Society por sua atuação na questão de gêneros na ciência, ela ingressou no curso de física em 1981, época em que o lugar feminino na ciência era diferente.

Hoje, com pós-doutorado e membro titular da Academia Brasileira de Ciências, incentiva outras mulheres a persistirem no sonho de serem cientistas. Vinda de escola pública, ela é um exemplo inspirador para muitas jovens.

“Consegui sobreviver como cientista graças a essa energia para lutar e uma capacidade de externar o que penso. Reconheço que por saber falar, tenho a responsabilidade de dar voz aos que não conseguem gritar”, explica Márcia, que nas horas vagas gosta de correr, assistir a filmes e ler.

Hoje a cientista conta mais sobre sua trajetória, seus desafios e reflete sobre o lugar da mulher na ciência. Fica aqui nosso muito obrigada por sua linda luta!

Confira nossa Conversa Afinada:

Conta um pouco sobre sua trajetória.
Sou filha de um eletricista, sargento da aeronáutica, e de uma secretária que ao casar teve que se dedicar aos cuidados dos filhos. Cursei, desde o primeiro ano, a escola pública. Na minha casa, meu pai consertava quando algum equipamento quebrava e a minha mãe administrava todo o resto, o que incluía fazer nossas roupas, ajudar nos nossos estudos e a economia da família. Aprendi com o meu pai a consertar equipamentos e rede elétrica e, com a minha mãe, a datilografar, algo que se tornou muito útil quando a tecnologia digital entrou no mercado. Eles nos faziam compreender que com estudo conseguiríamos ter uma vida tranquila. Eu e meus irmãos fomos a primeira geração a terminar curso superior na família.

Por que decidiu estudar física? Sempre foi sua vontade?
Durante o ensino médio eu era uma boa aluna. Como o colégio tinha poucos recursos, pediram para eu ajudar no laboratório. Adorei. Neste momento decidi que queria ser cientista e, em particular, física para desvendar o universo.

O que é mais bacana na sua profissão?
Entender. Compreender algo é a melhor emoção que existe. Pensar que tu és a primeira pessoa no mundo que entende algo é muito bom.

E qual é o maior desafio dela?
O desafio é cotidiano. Físicos precisam definir um problema que importa para ser compreendido. Há muitos problemas no mundo, mas os que importam para físicos são aqueles que têm uma característica universal. Universalidade quer dizer que ele ocorre em qualquer parte do mundo da mesma forma. Depois de definir o problema, temos que pensar como compreendê-lo. Usamos ferramentas que são equações, simulações e experimentos. Após compreender, testamos e passamos a descrevê-lo para o mundo.

Se não fosse física, seria o quê? Qual seria seu “plano B”?
Eu sempre soube que trabalharia com algo que permitisse liberdade e criatividade. Quando eu era criança, queria ser diplomata, achava que assim resolveria os problemas entre nações, grupos religiosos…

Como é ser mulher entre uma maioria de homens cientistas?
Ser uma cientista mulher é difícil, mas ser uma mulher cientista é complexo. Explico. Se anulas o que o teu gênero te dá de diferente, ou seja, se tu és uma cientista que acontece de ser mulher, vais sofrer os preconceitos sociais normais (mulher tem filho e não pode produzir igual, mulher é mais doce, portanto não pode liderar, mulher é emocionalmente instável), mas se resolves ser mulher cientista, ou seja, trazer o que podes adicionar como mulher como um complemento positivo, tu te tornas assustadora. Possivelmente o maior medo que os homens têm do movimento feminista não seja perder postos por igualdade de oportunidade, mas o fato da diversidade ser mais produtiva e eficiente.

Por que você acha que ainda há menos mulheres nesse meio?
O problema tem uma característica que existe em outras áreas, diminuição do percentual à medida que se avança na carreira, mas outra que só existe nas exatas e tecnologia: um percentual pequeno no ingresso. A primeira característica se deve a uma conjuntura social que afasta as mulheres de posições de poder, coloca a responsabilidade da família nos ombros delas, impõe o cuidado dos pais igualmente para as filhas, espera que a limpeza seja feita pelas mulheres. A segunda característica tem origens antigas. Conhecimento em exatas significa poder. Desde a idade média, magos eram protegidos por reis e bruxas eram perseguidas. Hoje este monopólio do poder é garantido pelos brinquedos rosa para as meninas, pelos brinquedos tecnológicos só para meninos, por uma sociedade de princesas e de aventureiros. Só teremos mais mulheres nas exatas quando meninos e meninas forem expostos às mesmas aventuras.

Como podemos mudar esse quadro?
Educação do maternal à pós-graduação precisa ter uma visão de que equidade significa eficiência social.

Qual é o seu recado para as jovens que veem em você um exemplo de mulher?
Muitas vezes nesta caminhada de mulher latina em um país com restrições tão grandes ao financiamento para a pesquisa, temos a tentação de amargurar uma tristeza, um luto. Na minha vida nunca pude me dar a esse luxo, pois luto para mim é verbo, o verbo lutar.

Pingue-pongue:
Uma mulher que te inspira… Helena Nader
Uma cientista que você admira… Yvonne Mascarenhas
Uma trilha-sonora para estudar… 2001, Uma Odisseia no Espaço
Um filme/série imperdível sobre ciência… Cosmos
Uma descoberta incrível da ciência… Relatividade
Uma descoberta que a ciência precisa fazer… Matéria Escura
Para ser uma boa cientista… é preciso ter tesão, pois sem tesão não há solução

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