Entrevista: Suada Rrahmani
Nosso bate-papo da vez é com Suada Rrahmani, florista nascida em um campo de refugiados na Alemanha e criada na Finlândia. Seu contato com a natureza vem desde a infância e, hoje, vamos falar mais sobre como essa paixão se tornou o seu trabalho.
As flores começaram a fazer parte da sua vida ainda no campo onde morava com sua família, vinda do Kosovo, que fazia parte da antiga Iugoslávia. Para dar mais vida ao lugar onde vivia, colhia as flores e as espalhava pela casa. Anos depois, sua família se mudou para a Finlândia com o objetivo de recomeçar a vida em outro local. Foi lá que Suada se formou em comunicação e marketing pela Universidade de Helskinki e teve a oportunidade de fazer um intercâmbio em Paris.
Nosso bate-papo fala um pouco sobre a infância da florista, sua paixão pela natureza, maternidade e processo criativo. Confira!
De onde veio a sua relação com as flores?
“Na Finlândia, eu sempre colhia flores sozinha pelos campos para enfeitar a casa. Me apaixonei pelas flores ainda criança. Quando me mudei para Paris, continuei fazendo buquês para as minhas amigas, para presentear ou levar em jantares. Só depois de me mudar para o Brasil que comecei a trabalhar com isso. Meu marido teve a ideia e me incentivou.”
Então a sua relação com as flores tem tudo a ver com a história da sua vida… Começou na infância, se tornou um hobby e hoje é a sua profissão…
“Tudo começou porque a nossa casa estava muito sem vida. Como meus pais eram refugiados, não tínhamos muito dinheiro para comprar móveis e decorações. Eu queria que o ambiente tivesse uma cor, então eu pegava flores para decorar e trazer uma vida para a casa.”
E como você percebeu que as flores eram a sua vocação?
“Às vezes, por ser um hobby, acabamos não enxergando o potencial daquilo para se tornar algo maior. É muito comum termos a ideia de ter que trabalhar com o que estudamos. Quando vim para o Brasil, eu queria fazer parte de uma agência criativa, trabalhar com marketing… Hoje, eu acredito que trabalhar com o que realmente amamos é o caminho para nos sentirmos realizados.”
E como se dá o seu processo criativo?
“Sempre tento trazer algum elemento diferente na composição das flores. Amo quando estou andando pela natureza, observando todos os detalhes, e me surpreendo com algo que nunca tinha visto antes. Tento sempre trazer esse frescor na montagem das flores.”
E na sua casa? As flores fazem parte da sua rotina além do trabalho também?
“Meus filhos sempre me trazem flores. Quando estamos caminhando por aí e eles veem uma flor, logo pegam e dizem: ‘Mamãe, mamãe, essa é para você!’ – mesmo com 2 e 4 anos. Eu já trabalhava com flores quando estava grávida, então acho que eles sentiram essa conexão e posso dizer que eles amam as flores também!
TEMPO é o nome da nossa coleção de Alto Inverno que tem a atemporalidade como ativo de força e reforça a construção de memórias que resistem à passagem do tempo. Como é a sua relação com o passar do tempo?
O tempo, para mim, é algo precioso. Significa crescimento. É como as flores: você começa pequeno, como uma semente, e vai crescendo até florescer. Com o passar do tempo, vamos amadurecendo e aprendendo o que é a vida. Em algum momento, também florescemos e a idade não é um problema, porque nos tornamos mais belas – novamente, como uma flor. As pétalas se tornam maiores e mais bonitas, o movimento muda… É o ciclo da vida. As flores são um registro da natureza de toda a beleza do passar do tempo.
Você criou esse buquê pensando no Tempo… O que veio na sua mente?
Eu escolhi as flores que me levam de volta onde tudo começou. De volta para a Finlândia, de volta para as florestas onde eu andava sozinha e ia pegando flores pelo caminho, fazendo diferentes composições de cores. Eu amava meu tempo na floresta, era como uma terapia para mim. Escolhi flores especiais que me lembram do cheiro e da delicadeza desse momento. Como um timelapse de volta para onde eu vim.