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Arte indígena: conheça o trabalho de Moara Tupinambá

Arte indígena

A produção criativa de mulheres inspira e é necessária. No post de hoje, queremos que você conheça o trabalho da Moara Tupinambá. Ela é uma artista visual que que exalta o protagonismo e a natureza feminina através de sua arte indígena. Natural de Maery do Pará (Belém do Pará), Moara é tupinambá, de origem da região do Baixo Tapajós.

Suas obras conectam a representação da mulher indígena em relação à cultura e ancestralidade através de colagens e gravuras. Além do seu trabalho artístico, Moara atua na área de curadorias de artes visuais voltadas para os povos originários e racializados. Algumas de suas obras fizeram parte do cenário do Camarote Gente Que é Soma no Carnaval carioca em 2023. Batemos um papo com ela para conhecer mais sobre sua carreira, inspirações e arte indígena.

Sua ancestralidade é um dos principais eixos dos seus trabalhos visuais, principalmente a representação da mulher indígena e sua relação com a natureza. Quando e como foi que aconteceu esse encontro entre arte e cultura indígena?

Eu sempre, desde quando comecei a fazer arte, nos meus 21 anos, já trazia a cultura do meu território nas criações. Quando iniciei foi pintando roupas de brechó. Acreditava que deveríamos reciclar as peças de roupas que já havíamos usado e transformá-las em outra de forma personalizada e com o intuito de gerar menos lixo para a natureza. Minha primeira marca era junto com a Lorena Cirino, depois criei uma outra chamada “Moara Brasil’. Nesta marca eu estampava roupas já produzidas por mim com tecidos mais sustentáveis. Geralmente as estampas eram relacionadas a valorização da floresta, bichos, encantados. Tudo isso se deve a minha espiritualidade e reconexão com valores e propósitos dos meus ancestrais.
Também criei esta marca para ter a minha autosustentabilidade financeira. Até porque meus pais passavam por algumas dificuldades que não conseguiam ter um equilíbrio financeiro com o trabalho que eles tinham na época. Pelo mesmo motivo eu resolvi ir embora pra SP. Meu desejo era tentar melhores condições de vida e com o sonho de ser uma profissional da criatividade reconhecida e pudesse ajudar a minha família. Cheguei até a fazer um curso técnico de vestuário no Senai. Pois queria aprender a fazer roupa, e trabalhava como vendedora em algumas lojas de shoppings. Porém me desmotivei quando consegui o meu primeiro emprego de estilista numa fabrica do Bom Retiro. Pois além de ser assediada pelo chefe da empresa, eu também não concordava com a forma de trabalho que faziam lá. Eles exploravam indígenas da Bolívia e trabalhavam em condições precárias. Isso me fez repensar o que eu queria afinal fazer em São Paulo. Foi então que decidi voltar a trabalhar como vendedora em shopping, mas dessa vez trabalhei em uma pequena galeria de arte e depois numa empresa de pôster.

Quando decidiu se tornar artista visual

Esse dinheiro me ajudou a estudar ilustração e processo criativo com Catarina Gushiken, e foi a partir dela que decidi virar artista visual. A Catarina me incentivou a buscar mais sobre as minhas origens, principalmente sobre a minha família. Foi quando fui atrás de compreender onde meu pai nasceu, que é numa comunidade chamada ‘Cucurunã” que fica em Santarém, no Pará. Uma pequena comunidade de zona rural e também urbana. Isso porque a cidade está ficando mais próxima, e lá me reconectei com a história da minha avó. Ela era benzendeira, parteira, farinheira. Meu avô era da roça e liderança catequista da comunidade. Entendi que havia uma mistura de indígenas daquela região de diversas etnias (tapajoara, arapiun, tupinambá, tapuia) com remanescentes quilombolas e um apagamento muito forte de nossas origens. Nos transformando simplesmente em pardos sem ancestralidade. A partir de então meu trabalho foi ganhando uma característica mais ativista. A série de colagens denominada “Mirasawá” foi se tornando uma forma de representar mulheres indígenas contemporâneas. Também surgiu aí o @museudasilva e sou vice-presidenta da @associacaowykakwara.

Você se expressa artisticamente através da colagem mesclando a representação liderança feminina indígena com um toque de sensibilidade. Como é o seu processo criativo na hora de produzir suas obras?

Eu já venho colecionando imagens em banco de imagens próprios que eu sempre faço uma intervenção artística na foto. Mas também ando misturando com desenhos que eu faço e quando a foto das mulheres chegam até a mim, eu construo a composição. Às vezes também pergunto para as mulheres sobre o que elas gostam, plantas, bichos, o que representa melhor elas. Mas isso vai depender do esforço colaborativo de ambas e o tempo de construção da arte. Algumas vezes me pedem trabalhos com tempo muito rápido e de dificil elaboração de uma fotocolagem mais personalizada.

Qual é o trabalho mais marcante da sua carreira? Por quê?

Difícil pergunta. Eu acredito que quando criei o @museudasilva deu um salto maior e as pessoas começaram a reparar outras criações minhas. Este projeto cheguei a ganhar prêmios como do Salão de Arte Contemporânea do Paraná. O prêmio para artistas iniciantes no CCSP e recentemente no Instituto Tomie Ohtake. Acredito que é porque eu mostro a história da minha família, da resistência mas também das tentativas de apagamento e etnocídio.

Como foi a experiência de participar da cenografia do Camarote Gente é o que Soma? Para você, como moda, arte e carnaval se conectam?

Para mim foi muito importante. Eu sempre vi o Carnaval pela TV e poder ter uma obra minha estampada num camarote. Além de ainda ter o privilégio de ver o maior carnaval do mundo junto as minhas parentas. Foi muito emocionante, eu fiquei muito feliz e elas também.  Acho que a moda e a arte têm um papel fundamental para a transformação social, política e modos de ser da sociedade. Elas podem se conectar trazendo beleza e comportamento. Sendo uma indígena, ativista, voltando também para um território que tem origem Tupinambá é poder mostrar para o mundo que não fomos exterminados. Nós estamos vivos! Por mais que tenham nos desmobilizado e mudado a nossa organização social e política, mas estamos remanescendo e voltando a contar a nossa história por nós mesmos.

Por fim, assista nosso vídeo com a criativa Lilian Farrish falando sobre o trabalho da Moara e apresentando o cenário do Camarote.

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