Crônicas de amor: 3 escritoras falam sobre como é senti-lo
O amor é um sentimento único e pode ser representado de várias formas. Para marcar o Dia dos Namorados, convidamos três escritoras para transbordar muito amor em palavras, em formato de crônicas. Portanto, queremos que você se deleite com cada linha, verbo e energia do texto de cada uma. Afinal, amar é sentir que ele está em todo lugar, quando estamos acompanhadas por alguém, quando brindamos à nossa própria companhia.
As palavras de Ryane Leão, Paula Gicovate e Olivia Nicoletti te levarão por caminhos onde o amor é quem guia todos os passos. A afeto é quem segura sua mão e te leva para viver jornadas inesquecíveis. Mas claro, estamos falando de amores possíveis, nada de romances de conto de fadas. Então, permita-se sentir toda o que as palavras de mulheres potentes e repletas de amor também para dizer.
Ryane Leão
Ryane Leão é poeta bestseller e professora cuiabana que vive em São Paulo. Publica seus escritos na página Onde jazz meu coração, com mais de 630 mil leitores. Tudo nela brilha e queima é seu primeiro livro, lançado pela Editora Planeta em 2017, e vendeu mais de 60 mil cópias.
Mas também pela Editora Planeta, a autora participou da antologia Querem nos calar, que reuniu quinze poetas de todas as regiões do Brasil. Além disso, em 2019 lançou seu segundo livro “Jamais peço desculpas por me derramar”. É fundadora da Odara – English School for Black Girls, escola de inglês afrocentrado para mulheres negras. Por fim, Ryane é do axé, filha de Oyá com Ogum e só sabe existir sendo ventania por aí.
Além de escrever sobre amor, Ryane também respondeu a algumas perguntas sobre o tema. Afinal, o que será que alguém que fala tanto sobre o tema pensa sobre relacionamentos e suas peculiaridades. Por isso, leia o que ela falou sobre:
Afeto é cura
e alguém me perguntar hoje o que é o amorvou dizer que é trocar estrelasgaláxias inteiras constelando juntaspartilhando o infinitopreparando a casa de dentropra dançar, expandir e acolhero afeto também é algo muito parecidocom fé:não andar sóse alguém me perguntar hoje o que é o amorvou dizer que é estar disposta a aprender sobre a levezaconcentrar os sentidos no agoranão mais habitar passados de dorbaixar escudos e erguer olhares fundostrazer conforto para o colo se aconchegarnas existências que juntas toparamabraçar a loucura da vidadeixar escorrer aquele riso guardadoque agora se sente seguro pra fluire se alguém me perguntar mais uma vezvou dizer que é cultuar cumplicidadedistribuir coisas boas tanto na queda quanto na subidae também no meio de todos esses processosaprender a ser naturezae celebrar esse encontroacima de tudo, celebrare relembrar:amor não é promessaé cura.
Paula Gicovate
Paula Gicovate é escritora e roteirista para cinema e TV. Já escreveu roteiros de programas como Esquenta e Melhores Anos das Nossas Vidas para a Globo, Desnude e Homens são de Marte para o GNT e é criadora da série Só Garotas do Multishow.
Além disso, lançou em 2014 Este é um Livro Sobre Amor, seu terceiro livro e primeiro romance pela Editora Guarda-Chuva, que foi traduzido e publicado na Espanha em 2016. Mas antes vieram as coletâneas de contos Sobre o Tudo que Transborda e D4. Por fim. em 2021 seu livro “Este é Um Livro Sobre Amor” será adaptado para série de TV e seu próximo romance será lançado.
Entre plot twists amorosos e textos com muitas vírgulas, Paula nos contou um pouco mais sobre sua visão de amor. Afinal, nunca é demais falar sobre o tema.
Nós.
Segredos escondidos. Planos de dominação mundial. Cumplicidade de edredom. Voz no silêncio. Suspiros. Raiva. Você pensa em mim no futuro?
“Aonde você for eu vou ao lado”
Nós.
Plural, duplinha, mãos dadas. O outro lado do fone de ouvido. Playlist secreta. Piadas internas. Apelidos que não fazem sentido algum para o resto do mundo.
Nós contra o resto do mundo. Nosso pequeno universo, nossa caixa, nosso quarto, nosso bunker.
Nós e a minha dúvida do quanto o amor dura. Essa minha ideia de que amor é algo comestível, suculento, a melhor refeição da sua vida, mas com o tempo embolora.
Como faz pra continuar junto por muitos anos, ainda se amando, ainda cultuando essa seita secreta que eu chamo de “nós”?
Não te contei, mas ando com uma obsessão de querer saber isso dos casais que também são “eles” há muito tempo. Quero aprender pra te ensinar.
Nós e essa minha teimosia em insistir no amor mesmo com tantas cicatrizes de guerra espalhadas pelo meu corpo.
Você nem questiona quem as fez. O que te importa é esse meu pequeno pedaço de carne que ainda não tem nenhuma marca. É pequeno. Mas é fértil.
Você sussurra no meu ouvido que “dessa vez vai ser diferente” e eu seguro nas suas mãos com essa fé cega que na verdade é pura teimosia.
Dessa vez vai ser diferente.
Olivia Nicoletti
Olívia Nicoletti tem 30 anos, mora em São Paulo, é jornalista, além de uma escritora de mão cheia. Já passou por redações de Vogue, Marie Claire e Estilo e hoje mantém um projeto de prosas poéticas no @__olipop.
Introduções à parte, vimos que Olivia também é boa de prosa. Por isso, tivemos um bate-papo rápido com ela. Afinal, falar de amor é mais simples do que pensamos, apesar do sentimento ser carregado de intensidade e complexidades. Mas será que ela conseguiu simplificar um pouco o que o amor representa para ela? É isso que veremos a seguir:
Fita métrica
voltamos três casas no tabuleiro
de tudo o que anda pra frente
porque estar no presente faz
bem mais sentido que antes ou
depois dele, ainda piso firme com
um pé só antes de caminhar
bípede – tateio, prendo o ar. te
peço pra namorar comigo todos
os dias: no acordar, jeito de sorrir
com os olhos, mordida que não
dói, até escrevi e escondi bilhete,
que é pra acostumar com a ideia
de alterar a conjugação verbal do
singular pro plural. […]
[…] na contramão de todas
as perspectivas imagináveis
você me diz sim e de novo e outra
vez, sinto cada bolha inventada
que sai pelo meu nariz enquanto
vou mais fundo nesse mergulho
intenso que combinamos de viver.
mantenho sempre em vista aquela
fita métrica pra não deixar se perder
o tamanho dos envolvidos sentimentos
tantos, inexplicáveis. confundo
estrela cadente com vagalume, mas agora
ignoro os três graus da miopia e
enxergo bem melhor no escuro –
mudar uma forma dolorosa de gostar
não precisa ser desespero, não. […]
[…] amor, aprendi com a convivência,
é construção. te escrevo com os pés
encostados no quente do teu corpo:
sinto uma paz enorme dentro da
caixa torácica por te saber no mundo.
reparo de novo; te acho tão bonito.
Palavras finais
Por fim, se o amor está em todas as coisas, pessoas e momentos, nas palavras, é onde se encontra sua versão mais sem filtro, mais direta. Então, desejamos que não falte palavras bonitas, que abraçam, que te deem um tapinha nas costas e te falem que o amor é uma coisa boa. Até porque, amar é tarefa diária, prática que exige dedicação. Mas como muitas outras atividades, não faltam recompensas e sorrisos.
Mas amor só existe se é compartilhado com o outro? Não, ele existe de várias formas, acredite. Portanto, não deixe passar as oportunidades de se amar mais, amar que está perto, quem está longe. Ao final do dia queremos apenas lembrar do que foi bom. Então, declare amor para si mesma, para quem você admira, cozinhe, prepare um drink especial e desfrute o momento. Afinal, amar é urgente! Por isso, cerque-se de bons sentimentos e ame!