Pequeno manual amoroso: 6 dicas para um casamento de sucesso
Se ajeita aí na cadeira com todo conforto e reserva um pouco mais de tempo: isso aqui é um textão de casamento. Não, esse artigo não contém histórias românticas para emocionar. Aliás, é provavelmente por causa delas que, vez ou outra, em nome do amor (próprio) e da nossa sanidade, precisamos organizar as ideias num texto como esse – que, com ousadia e alegria (e um pouco de noção do inevitável ridículo) se arrisca a lançar alguma luz sobre duas questões fundamentais: 1. porque casar e 2. como se manter casado.
Por que casar?
Não vou me atrever a tentar descrever o cubismo emocional que leva cada um a escolher outra pessoa como companhia “por todos os dias da vida”. Dá pra mais ou menos pra desconfiar porque o casamento existe como solução social. Sim, ele presta um enorme serviço. Afinal, de que outra maneira “não arbitrária” (pendure muitas aspas aí porque nem isso é uma prerrogativa assim tão garantida) seria possível organizar a sociedade, educar filhos e acumular riqueza? (mesmo que as definições de riqueza tenham sido muito atualizadas depenadas ao longo do tempo).
Historicamente, fomos depositando um monte de simbolismos, significados e ritos pra dourar essa pílula que era tão indigesta – é quase piada pronta: pra quê tanta testemunha, religião, juiz, parcelamento de imóvel, festa e viagem registrando essa transição de vida? Nem o nascimento de um ser humano provoca todo esse barulho social.
Mas, tudo bem. Depois de alguma evolução, parece que herdamos a parte mais agradável que útil: quem não ama sacramentar o sentimento em contrato, viajar em clima apaixonado e rebolar até o chão num vestido branco rendado? Faz parte. E desde que seja a vontade genuína de cada noiva/noivo/noive e não uma resposta às expectativas da mãe, vizinha, professora de piano, tá tudo certo.
Mas o melhor resumo dessa ópera, na minha humilde opinião, é: a gente casa porque – antes de tudo – se apaixona. E mesmo sabendo que a paixão passa, a gente gosta da ideia de ter alguém pra escrever uma história de vida junto.
Casei, e agora?
Em tempos de pandemia, fica até fácil fazer essa analogia: o casamento – nessa modalidade que elegemos como “convencional”: ocidental, familiar, monogâmico e fiel – é também um tipo minimalista e voluntário de isolamento social. É escolher o confinamento sentimental de uma relação, mesmo quando está cheio de gente fora dela. É morar instalado num aquário bem no meio do oceano.
Dito assim, não parece a decisão com mais chance de dar certo na vida. Mas, resgatando as razões do porquê casar, ainda é a invenção mais testada e parcialmente bem sucedida quando a intenção é ter afeto e companhia a longo prazo.
Por isso, se você pensa a sério sobre essa possibilidade ou já casou e não pretende se desfazer do mozão tão cedo, listo aqui um pequeno manual informal da vida de casal:
1. Deu palestra
É o maior clichê, mas é verdade: case-se com quem você gosta de conversar e, preferencialmente, faz você rir. Porque a atração física nem sempre vai rolar. A grana eventualmente pode apertar. A família/ o trabalho/ a rotina em algum momento vai se embolar. Então é melhor ter em casa alguém que pode ouvir e trocar ideia com você, e, quem sabe, aliviar essa grande barra que é… a vida adulta.
2. Hay que manter la ternura (y el misterio)
Polêmica: dá pra manter a atração sem algum mistério? E dá pra cultivar o mistério quando não guardamos nenhum micro tipo de cerimônia? Honestamente, eu mesma escrevi as perguntas incerta sobre as respostas. Mas tendo a achar que se um casal faz tudo junto ou na frente um do outro – sobretudo, os momentos mais privativos/individuais da ida ao banheiro, por exemplo – sobra pouco espaço pra fantasiar o que quer que seja sobre o outro.
Mas não é só com a baixa fisiologia que estragamos a magia: gente que reporta cada passo ordinário por mensagem de celular (“Bom dia, amor/ Cheguei no trabalho/ Tô almoçando ravioli/ Comprei pasta de dente/ Pisei numa pipoca/ Estou com sono”) me parece estar correndo o mesmo risco de banalização da intimidade de quem faz um xixi de porta aberta.
3. Troque likes
Fica difícil não despejar o ódio acumulado em quem está do nosso lado, principalmente naqueles dias difíceis. Depois de passar horas na espera do dentista, ir pro mercado sem lista, encontrar o celular quebrado, ter o cartão clonado, manchar de molho o vestido novo, ir pro endereço errado e sair com o carro arranhado… Mas canta pra subir esse espírito trevoso antes que ele enfraqueça a relação.
Procure deixar os problemas no lugar deles. Ou desabafar sem contaminar o outro ou se pilhar. Se possível, tente enxergar ou lembrar de uma coisinha bacana que o outro fez por você. Por menor ou mais remota que seja. No meio de tanto improviso e achismo, isso dá pra ter certeza: gentileza gera gentileza.
4. A vida não é filme e você não entendeu
Se fosse preciso resumir essa dica numa frase-bomba, seria: não assista comédias românticas. É meio isso: do mesmo jeito que boa parte das princesas Disney prestam um grande desserviço à auto-imagem feminina – porque são quase todas perfeitas, eurocêntricas e órfãs ou carentes de pai e mãe (Branca de Neve), silenciadas (Ariel), exploradas (Cinderella), tratadas como enfeite (Bela) e dependentes de um homem salvador (Aurora) – também os mais populares roteiros românticos do cinema costumam retratar as relações dos casais de um jeito estereotipado e perigoso.
Pode reparar: o conflito que aflige esses pares é quase sempre um problema alheio aos desafios da convivência em si. Com frequência, são casais unidos por uma paixão incondicional (fake news #1), sujeitos a uma dificuldade externa que se impõe (a distância, a família, o trabalho, a idade, a morte). Como se viver junto e a longo prazo não fosse desafio suficiente pra qualquer ser humano (fake news #2).
5. Chama no probleminha
Tá começando a dar ruim? Tem alguma coisa que faz parte da rotina que está ficando difícil de deixar passar? Nem precisa ser uma grande falha de caráter – às vezes só o jeito como diariamente o outro deixa a casca da banana em cima da pia já basta pra desalinhar nossos chakras. E nesses casos, com boa vontade pra conversa, sempre vale a pena trocar uma ideia pra achar as pequenas soluções juntos antes que o probleminha vire um encosto na relação.
6. Por último e mais importante: não confie em manuais
Mesmo os informais (como esse). A vida de casal, como toda experiência pessoal, é intransferível. Assim como princesas e comédias românticas podem ser nocivas, tudo o que funcionou pra mim pode azedar pra você. Por isso, se chegou até aqui, tá convidada a desconfiar de tudo o que está escrito e inventar seus mandamentos próprios – e dar uma atualizada neles de vez em quando também. A vida é curta, nosso humor oscila e, com ele, às vezes até aquele amorzão bonito balança.
(Vivian Mayrink sofreu de amor aos 6 anos, passou uma noite em claro pensando no crush aos 12, teve o primeiro namorado aos 16 e casou 4 vezes com o mesmo marido, com quem está há 11 anos).